Colectiva 1

Diana Carvalho, Francisco Babo, Francisco Laranjeira, José Oliveira
26 de Fevereiro a 19 de Março 2011
































Textos:

     Juntamente com a inauguração ofi cial do renovado edifício do Instituto de Saúde Pública
da Universidade do Porto, será também inaugurada a presente exposição.
     Assim, um novo espaço expositivo, a Galeria Painel, surge deste novo habitar de um edifício
que em tempos já albergou o maior computador do Porto; da necessidade de ocupação de
um espaço e da vontade de trazer experiências/modos de ver a realidade, o mundo e a vida,
diferentes daqueles que as práticas exercidas no edifício encerram. Uma visão diferente
da visão mais racional, microscópica e científica presentes no dia-a-dia deste Instituto.
    Sabemos bem que nem o maior computador do mundo seria capaz de prever/entender todos
os fenómenos artísticos. Não que eles não possam ser produzidos ou efectuados através
de uma análise, por vezes, científica e racional, mas porque o seu campo de acção, o seu
modo de operar se efectua num campo de práticas bem mais alargado. Por vezes difíceis
de defi nir. Por estas e por outras razões o conflito/dialéctica entre uma prática cientifica
com algo tão acientífi co como a Arte possa produzir uma bolsa de ar, um sair fora de uma
pressuposta racionalidade, uma visão do outro lado do espelho. Tal como naquele jogo,
em que se tem de desenhar uma estrela dentro de um quadrado com cerca de oito ou nove
rectas sem se levantar a caneta, a solução acaba muitas vezes por estar no trespassar dos
limites do quadrado para encontrar o ângulo ou o caminho “certo”.
     Esta influência, ou contágio, no sentido inverso é também fundamental para as práticas
artísticas. As novas descobertas, as alterações de paradigmas científicos que se deram e
dão ao longo da história, têm e tiveram uma importância vital para a Arte e para a forma
de pensar a Arte. Pessoas como Galileu Galilei, Isaac Newton, Pasteur, Einstein ou T. S.
Kuhn e muitas outras (sendo esta escolha um pouco parcial) foram importantíssimas nas
mudanças das práticas e dos pensamentos artísticos.
     Desta forma, pretende-se que este espaço crie um confronto saudável entre estas duas
áreas, e que neste diálogo algo de enriquecedor surja para as duas partes. Sejam novas
perspectivas, experiências ou aprendizagens. Porque muitas vezes é na diferença ou naquilo
que nos é externo, que a apreensão daquilo que somos se torna mais fácil.
Painel


Em tempos, quando era mais novo, espetei uma farpa no dedo grande do pé direito. Doeu
um pouco mas depois passou e então eu não dei grande atenção à ferida. Nunca gostei
muito de esburacar a pele com um alfi nete e uma pinça para retirar pequenos pedaços de
madeira da dita cuja.
     Passados uns dias, aquilo começou a incomodar. Um inchaço que me impedia de apoiar
toda a superfície do pé necessária para caminhar normalmente. Quanto mais para correr,
que é um movimento que implica uma grande concentração de peso nos dedos dos pés.
Fiquei imenso tempo na cama, talvez uma semana, porque a certa altura não conseguia
andar sem grandes fatias de dor. A ferida infectou, obrigando até uma presença de um
médico para analisar o caso. Podia até nem ser um médico de verdade; não me recordo
exactamente de quem me diagnosticou. Mas para mim chegava ter ajuda para resolver
tamanha inconsciência da minha parte. Deixar uma ferida sem tratar. Que estupidez.
Garanto que me ensinaram melhor.
     Isto não é um texto de catálogo, daqueles em que o artista fabuliza uma recordação para
defender por via da uma anacronia a autenticidade da obra que expõe. Mas admito que
é tentador.
     O que acharão os meus compinchas da recém-constituída Galeria Painel?
     O Oliveira fala no seu texto do computador que esteve albergado no imóvel onde é agora
o Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto. Não percebo nada dessas coisas
da computação e se calhar por isso não acho que isso seja muito relevante. Mas também
noutra altura não achei uma ferida muito relevante.
     Mas se foi de facto um médico que me curou sendo requisitado por um elemento da minha
família para o fazer, o meu pai ou a minha mãe não me recordo ao certo, que bom que é
ter alguém que possa olhar por nós. Já não falo exactamente da família, que é a geração
próxima que nos carregou no ventre, que de olhos esbugalhados olhou para mim tentando
descortinar quanta parvoíce; quanta parvoíce poderia a cabeça de uma jovem criança
conter. Essa família que nos deixou todos os defeitos e qualidades que julgava ter. Viva a
geração antes da nossa. Falo do médico que estudou, vagabundeou por entre bibliotecas,
pinacotecas, discotecas, e que de forma magnânima aliviou as dores que eu sentia. Falo do
médico a quem dei trabalho que era do seu emprego. Foi também ele, do topo empoleirado
e nobre da sua profi ssão, que mostrou no meu corpo a lição. A lição da ferida por tratar.
A geração que me ensinou a lição não repudio. A geração que aprende a lição também
não repudio. Para além dos nomes que usamos para os astros, dos quais gosto muito tipo
Cassiopeia, ainda há astros na terra. Homens e mulheres como nós, que nós defi nimos na
gratidão ao presente da nossa juventude. Astros como o Messi. O sfoasgfnjjas fuiwefnnfgr
giikaskdnjasf asfi jasfooasf-jkasoo jsf sfuina suiifnaolosmfanjhdsoogre uasufbausjkopvojmfj
aus fuujaqs quyq weurejd fi kg g g iaksfbbakskkf eooengfkw.
     Atenção no entanto; por detrás de cada Astro da História, está sempre a coisa social,
essa baleia do Socialismo, esse busílis da questão; o olhar de um povo na força da nossa
combustão caros companheiros.
Painel